Já disse várias vezes por aqui que sou professora e dou aulas a adolescentes. Acho que nunca mencionei o facto de ser professora de Ciências no 3ºciclo do ensino básico. Ou seja, apanho a faixa etária 12 - 17 anos.... com toda a malícia própria da idade do armário, com miúdos que sabem ser verdadeiramente mauzinhos mas que também sabem ser muito doces, muito amigos. Como é próprio da adolescência levam tudo ao limite, ou seja, quando tudo está bem, está MUITO bem, mas quando alguma coisa corre menos bem, é o fim do mundo.
Sempre mantive uma relação muito franca com os alunos. Tenho sido bastante afortunada pois tenho conseguido apanhar alunos que me fazem sentir querida. Mas, aprendi ao longo do tempo a tornear certas questões menos fáceis para mim... Como seja eu e o meu corpo. No 9ºano por exemplo, existe uma forte ligação à Educação para a Saúde, em que focamos problemas como a obesidade, a necessidade de hábitos saudáveis de vida, o cuidado com a alimentação, etc. Ou seja, eu que não era exemplo para ninguém a querer vender um peixe que nem eu comia... Não era fácil. Nada fácil mesmo...
Este ano tenho 3 turmas de 9ºano. Todas elas que acompanhei desde o 7ºano. Ou seja, já existe uma relação próxima com os alunos, que os deixa à vontade e que me deixa à vontade a mim também. Claro que na semana passada todos queriam saber o que eu tinha feito para estar tão diferente a nível físico... e segundo consta, para eles até a nível de atitudes e maneira de estar...
Até que hoje a propósito de um conteúdo se falou na Roda dos Alimentos e da importância da mesma numa alimentação saudável. Foi inevitável... lá choveram as perguntas. Se eu tinha uma dieta muito rigorosa, quantos quilos tinha perdido, se tinha medo de me pesar, etc. Havia duas alunas que já tinham vindo ao blog e lá choveram mais umas perguntas... se eu tinha mesmo 102kg no ano lectivo passado, o que me tinha feito mudar, etc.
E lá teve de ser... contei um pouco da minha história nos últimos meses. Disse que fazia 7 refeições diárias (não acreditavam...lol) que adorava fazer exercício agora e que me sentia muito melhor a todos os níveis. Tive de lhes chamar a atenção para o facto de ser agora enquanto são jovens que devem criar hábitos saudáveis de vida, alimentarem-se correctamente e fazerem exercício físico adaptado às idades deles. Falei de casos de adolescentes que se metem em regimes absurdos desenvolvendo anorexias e bulimias. Disse-lhes que se eu tivesse na adolescência uma alimentação saudável não teria necessitado de estar agora a fazer isto.
Mas acima de tudo aquilo que mais me marcou foi o à-vontade com que falei sobre mim, sobre o meu corpo, sobre o meu peso anterior, e sobre alguns traumas por causa disso. Achei curioso que eles me disseram que sempre achavam que eu parecia estar de bem com o mundo apesar de ser obesa (tiveram alguma dificuldade em dizer a palavra...achei engraçado...). Mas também me disseram que agora me sentem mais feliz. E estou mesmo. Aliás, acho mesmo que nunca na minha vida profissional me senti tão à-vontade e tão contente por poder falar destas coisas sem ficar constrangida.
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